Friedrich Nietzsche era formado em filologia clássica e não em filosofia. Tornou-se
filósofo, segundo ele mesmo diz, devido à leitura de Schopenhauer. Concorda
com a visão de mundo deste filósofo em três questões essenciais: a) a
inexistência de Deus; b) a inexistência de alma; c) a falta de sentido da vida,
que se constitui de sofrimento e luta, impelida por uma força irracional, que
podemos chamar de vontade.
No entanto, ao contrário de Schopenhauer, Nietzsche não vê a realidade
repartida em duas, o fenômeno e a coisa em si. Considera que este mundo é a
única parte da realidade e que não devemos rejeitá-lo ou nos afastarmos dele,
mas viver nele com plenitude. Ele realiza uma análise crítica dos elementos subjacentes à tradição moral hegemônica no Ocidente e procura caracterizar uma Filosofia e uma educação a serviço da singularização voltada para a construção de um homem universal; e as que se colocam a serviço da subjetivação, atentas ao anseio da subjetividade, centradas no homem como ser concreto, abstraindo a natureza humana. Como, porém, fazer isso num mundo sem Deus e sem
sentido?
Nietzsche começa a resolver o problema fazendo um ataque à moral e aos valores
existentes na sociedade que lhe é contemporânea. Segundo o filósofo, esses
valores derivam de civilizações já inexistentes, como a grega e a judaica, e de
religiões em que muitos - senão a maioria - já não têm fé. Precisamos,
portanto, de uma nova base para assentar nossos valores.
Justiça dos fracos
Justiça dos fracos
A civilização, de acordo com o Nietzsche, foi criada pelos fortes, pelos
inteligentes, pelos homens competentes, os líderes que se destacaram da massa.
Moralistas como Sócrates e Jesus, porém, negaram essa realidade em nome dos
fracos.
"Super-homem"
Considerando que tais valores não têm
origem divina ou transcendente, Nietzsche afirma que somos livres para negá-los
e escolher nossos próprios valores. Ao "tu deves" devemos responder
com o "eu quero". É a vontade de poder que permite ao
indivíduo que se autoelege desenvolver seu potencial máximo de modo a tornar-se
um super-homem ou um ser além-do-homem - isto é, que se coloca acima da
massa.
Naturalmente, o filósofo sabe que isso não vai abolir os conflitos e nem se
preocupa com isso, pois considera os conflitos como um estímulo. De resto,
querer abolir a competição, a derrota e o sofrimento é o mesmo que pretender
abolir a lei da gravidade.
Desafio e resposta
O pensamento nietzschiano pode ser avaliado sob duas perspectivas. Por
um lado, ele postula um supremo desafio ético ao propor uma reavaliação radical
dos valores morais da humanidade. Nesse sentido, ele apresentou o problema
sobre o qual iriam se debruçar muitos filósofos do século 20, a partir dos
existencialistas.
Por outro, a resposta que ele propõe a esse desafio - marcada pelo
individualismo e pela "lei do mais forte" (que pode ser também o mais
inteligente ou o mais talentoso) - desaguou no nazi-fascismo, que
se apropriou de suas ideias e o usou em sua propaganda. No encontro histórico
de Mussolini e Hitler, em 1938, o
líder alemão presenteou o italiano com uma coleção das obras de Nietzsche. Convém lembrar, porém, que o filósofo já em sua época ridicularizava o
nacionalismo alemão. Quanto ao seu propalado anti-semitismo, pode ser
desmentido por um de seus próprios aforismos: "Os anti-semitas não perdoam
os judeus por terem intelecto e dinheiro. Anti-semita: outro nome para 'roto e
esfarrapado'".
Não se pode falar de Nietzsche sem comentar o aspecto literário de sua obra. A
maioria de seus livros não é escrita no tipo de prosa dissertativa
característica da filosofia, com argumentos e contra-argumentos expostos na
íntegra. Ao contrário, estão sob a forma fragmentária de aforismos e parágrafos
numerados separadamente, ou ainda como epigramas ou na linguagem dos textos
religiosos, como se vê em uma de suas obras mais conhecidas: "Assim falou
Zaratustra".
Fontes:
educacao.uol.com.br
fflch.usp.br/df/gen/
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