sábado, 5 de novembro de 2011

Bastidores do pensamento contemporâneo



De uma forma ou de outra, uma série de processos históricos ajudou a formar a mentalidade contemporânea (que a relatividade tratou de desordenar). Uma herança filosófica que se transformou em conceitos, ideias e correntes de pensamento.
Podemos citar alguns elementos importantes: o movimento renascentista, o modernismo, o discurso científico e o próprio marxismo. Seguem, abaixo, algumas noções relevantes.

- O Movimento Renascentista ou apenas Renascimento foi o nome dado ao Renascimento Cultural que aconteceu durante os séculos XIV, XV e XVI na Europa, e que procurava resgatar a cultura esquecida durante os tempos medievais. 

As principais características do Renascimento foram o Racionalismo, Experimentalismo, Individualismo e Antropocentrismo. Uma grande característica do Renascimento foi o Humanismo que valorizava o homem, que a partir daí começou a ser tratado como ser racional e posto assim no centro do Universo. O Renascimento também foi marcado por importantes descobertas científicas, notadamente nos campos da astronomia, física, medicina, matemática e geografia. 

O Renascimento nasceu na Itália, mais especificamente nas cidades que enriqueceram com o comércio no Mediterrâneo. Porém com a expansão marítima a idéia Renascentista foi divulgada por diversas partes do mundo como na Inglaterra, Alemanha e os Países Baixos. 

O Renascimento foi muito importante também, porque foi a principal influencia dos pensadores Iluministas do século XVII.


- A Filosofia Moderna corresponde ao pensamento desenvolvido da metade do século XV ao final do século XVIII. O que chamamos de mentalidade moderna advém das transformações culturais, sociais, religiosas e econômicas que ocorreram na Europa deste período.
Os historiadores da filosofia designam como filosofia moderna aquele saber que se desenvolve na Europa durante o século XVII tendo como referências principais o cartesianismo — isto é, a filosofia de René Descartes —, a ciência da Natureza galilaica — isto é, a mecânica de Galileu Galilei —, a nova idéia do conhecimento como síntese entre observação, experimentação e razão teórica baconiana — isto é, a filosofia de Francis Bacon — e as elaborações acerca da origem e das formas da soberania política a partir das idéias de direito natural e direito civil hobbesianas — isto é, do filósofo Thomas Hobbes.

No entanto, a cronologia pode ser um critério ilusório, pois o filósofo Bacon publica seus Ensaios em 1597, enquanto o filósofo Leibniz, um dos expoentes da filosofia moderna, publica a Monadologia e os Princípios da Natureza e da Graça em 1714, de sorte que obras essenciais da modernidade surgem antes e depois do século XVII. Muitos historiadores preferem localizar a filosofia moderna no período designado como Século de Ferro, situado entre 1550 e 1660, tomando como referência as grandes transformações sociais, políticas e econômicas trazidas pela implantação do capitalismo, enquanto outros consideram decisivo o período entre 1618 e 1648, isto é, a Guerra dos Trinta Anos, que delineia a paisagem política e cultural da Europa moderna.


- O discurso científico se fundamenta no esforço para descobrir e aumentar o conhecimento humano e na busca pela compreensão da realidade. Refere-se tanto a:
  • Investigação racional ou estudo da natureza, direccionado à descoberta da verdade. Tal investigação é normalmente metódica, ou de acordo com o método científico – um processo de avaliar o conhecimento empírico;
  • O corpo organizado de conhecimentos adquiridos por estudos e pesquisas.
A ciência é o conhecimento ou um sistema de conhecimentos que abarca verdades gerais ou a operação de leis gerais especialmente obtidas e testadas através do método científico. Nestes termos ciência é algo bem distinto de cientista, podendo ser definida como o conjunto sistematizado de todas as teorias científicas (com destaque para os paradigmas válidos), do método científico e dos recursos necessários à produção das mesmas.
Decorre que um cientista é um elemento essencial à ciência, e como um ser humano dotado de um cérebro imaginativo, que possui sentimentos e emoções, o cientista certamente tem suas crenças - que vão além das verdades gerais, podendo este inclusive vir a ser um teísta ou religioso. É por tal de relevância ressaltar que a ciência exige expressamente que o cientista saiba manter suas crenças longe de seus artigos científicos e das teorias científicas com as quais esteja a trabalhar, constituindo-se estes dois elementos - ciência e cientista - por definições certamente distintas.
Enfatiza-se, para a correta compreensão, que a ciência não exclui os crentes, teístas e/ou religiosos do seu leque de cientistas, contudo a ciência, graças aos pré-requisitos do método científico,exclui, dela e de suas teorias científicas, as crenças daqueles, sendo a ciência - em definição stricto sensu - expressamente cética no que lhe cabe.

- O conceito de superestrutura de Marx está contido dentro da sua concepção filosófica do materialismo histórico. Escreveu Marx: "... Na produção social da sua existência, os homens entram em relações determinadas, necessárias, independentes da sua vontade; essas relações de produção correspondem a um grau de desenvolvimento dado as suas forças produtivas materiais. O conjunto dessas relações de produção constitui a estrutura econômica da sociedade, a base real sobre a qual se eleva uma superestrutura jurídica e política e à qual correspondem determinadas formas de consciência social... Num certo estado de seu desenvolvimento, as forças produtivas da sociedade entram em contradição com as relações de produção existentes ou com o que não é mais do que sua expressão jurídica, as relações de propriedade, no interior das quais se tinahm movido até então. De formas evolutivas que eram, estas relações tornam-se entraves dessas forças. Então abre-se uma era de revolução social..."

Marx e sua filosofia


MATERIALISMO DIALÉTICO 

Baseado em Demócrito e Epicuro sobre o materialismo e em Heráclito sobre a dialética (do grego, dois logos, duas opiniões divergentes), Marx defende o materialismo dialético, tentando superar o pensamento de Hegel e Feuerbach. 

A dialética hegeliana era a dialética do idealismo (doutrina filosófica que nega a realidade individual das coisas distintas do "eu" e só lhes admite a idéia), e a dialética do materialismo é posição filosófica que considera a matéria como a única realidade e que nega a existência da alma, de outra vida e de Deus. Ambas sustentam que realidade e pensamento são a mesma coisa: as leis do pensamento são as leis da realidade. A realidade é contraditória, mas a contradição supera-se na síntese que é a "verdade" dos momentos superados. Hegel considerava ontologicamente (do grego onto + logos; parte da metafísica, que estuda o ser em geral e suas propriedades transcendentais ) a contradição (antítese) e a superação (síntese); Marx considerava historicamente como contradição de classes vinculada a certo tipo de organização social. Hegel apresentava uma filosofia que procurava demonstrar a perfeição do que existia (divinização da estrutura vigente); Marx apresentava uma filosofia revolucionária que procurava demonstrar as contradições internas da sociedade de classes e as exigências de superação. 

Ludwig Feuerbach procurou introduzir a dialética materialista, combatendo a doutrina hegeliana, que, a par de seu método revolucionário concluía por uma doutrina eminentemente conservadora. Da crítica à dialética idealista, partiu Feuerbach à crítica da Religião e da essência do cristianismo. 
Feuerbach pretendia trazer a religião do céu para a Terra. Ao invés de haver Deus criado o homem à sua imagem e semelhança, foi o homem quem criou Deus à sua imagem. Seu objetivo era conservar intactos os valores morais em uma religião da humanidade, na qual o homem seria Deus para o homem. 
Adotando a dialética hegeliana, Marx, rejeita, como Feuerbach, o idealismo, mas, ao contrário, não procura preservar os valores do cristianismo. Se Hegel tinha identificado, no dizer de Radbruch, o ser e o dever-ser (o Sen e o Solene) encarando a realidade como um desenvolvimento da razão e vendo no dever-ser o aspecto determinante e no ser o aspecto determinado dessa unidade. 

A dialética marxista postula que as leis do pensamento correspondem às leis da realidade. A dialética não é só pensamento: é pensamento e realidade a um só tempo. Mas, a matéria e seu conteúdo histórico ditam a dialética do marxismo: a realidade é contraditória com o pensamento dialético. A contradição dialética não é apenas contradição externa, mas unidade das contradições, identidade: "a dialética é ciência que mostra como as contradições podem ser concretamente (isto é, vir-a-ser) idênticas, como passam uma na outra, mostrando também porque a razão não deve tomar essas contradições como coisas mortas, petrificadas, mas como coisas vivas, móveis, lutando uma contra a outra em e através de sua luta." (Henri Lefebvre, Lógica formal/ Lógica dialética, trad. Carlos N. Coutinho, 1979, p. 192). Os momentos contraditórios são situados na história com sua parcela de verdade, mas também de erro; não se misturam, mas o conteúdo, considerado como unilateral é recaptado e elevado a nível superior. 

Marx acusou Feuerbach, afirmando que seu humanismo e sua dialética eram estáticas: o homem de Feuerbach não tem dimensões, está fora da sociedade e da história, é pura abstração. É indispensável segundo Marx, compreender a realidade histórica em suas contradições, para tentar superá-las dialeticamente. A dialética apregoa os seguintes princípios: tudo relaciona-se (Lei da ação recíproca e da conexão universal); tudo se transforma (lei da transformação universal e do desenvolvimento incessante); as mudanças qualitativas são conseqüências de revoluções quantitativas; a contradição é interna, mas os contrários se unem num momento posterior: a luta dos contrários é o motor do pensamento e da realidade; a materialidade do mundo; a anterioridade da matéria em relação à consciência; a vida espiritual da sociedade como reflexo da vida material. 

O materialismo dialético é uma constante no pensamento do marxismo-leninismo (surgido como superação do capitalismo, socialismo, ultrapassando os ensinamentos pioneiros de Feuerbach). 

MATERIALISMO HISTÓRICO 

Na teoria marxista, o materialismo histórico pretende a explicação da história das sociedades humanas, em todas as épocas, através dos fatos materiais, essencialmente econômicos e técnicos. A sociedade é comparada a um edifício no qual as fundações, a infra-estrutura, seriam representadas pelas forças econômicas, enquanto o edifício em si, a superestrutura, representaria as idéias, costumes, instituições (políticas, religiosas, jurídicas, etc). A propósito, Marx escreveu, na obra A Miséria da filosofia (1847) na qual estabelece polêmica com Proudhon: 

As relações sociais são inteiramente interligadas às forças produtivas. Adquirindo novas forças produtivas, os homens modificam o seu modo de produção, a maneira de ganhar a vida, modificam todas as relações sociais. O moinho a braço vos dará a sociedade com o suserano; o moinho a vapor, a sociedade com o capitalismo industrial. 

Tal afirmação, defendendo rigoroso determinismo econômico em todas as sociedades humanas, foi estabelecida por Marx e Engels dentro do permanente clima de polêmica que mantiveram com seus opositores, e atenuada com a afirmativa de que existe constante interação e interdependência entre os dois níveis que compõe a estrutura social: da mesma maneira pela qual a infra-estrutura atua sobre a superestrutura, sobre os reflexos desta, embora, em última instância, sejam os fatores econômicos as condições finalmente determinantes. 

Fontes:



sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Modernidade, filosofia e Descartes.


Após a Renascença e a Reforma (aceita amplamente, por praticamente todas as camadas sociais), o segundo grande período na história do pensamento moderno é representado pelo racionalismo e pelo empirismo: duas tendências paralelas que abrangem os séculos XVII e XVIII. Embora em antítese entre si, como uma gnosiologia intelectualista está em antítese como uma gnosiologia sensista, concordam, no fundo, pelo fenomenismo - subjetivismo - comum, que será sistematizado logicamente no pensamento de Kant. Ao mesmo tempo, racionalismo e empirismo encontrarão uma composição e uma aplicação prática no iluminismo, que é o pressuposto lógico da revolução francesa. 
Importante ressaltar o papel essencial dado à experiência/observação da natureza durante esse momento filosófico/moderno.

Descartes e suas Máscaras
Descartes (1596-1650) O filósofo francês René Descartes foi um dos fundadores do moderno movimento racionalista ao tempo em que introduziu a dúvida como elemento primordial para a investigação filosófica e científica. A partir dele, as ciências físicas e naturais liberaram-se da escolástica e da religião, dando início a sua impressionante marcha ascendente para a consagração no mundo moderno.

Apesar de ter estudado em colégio jesuíta (La Flèche, de 1604 a 1612), Descartes veio a se tornar altamente cético em relação à filosofia clássica que havia aprendido no colégio jesuíta.
Em relação à filosofia ele afirma:
"A filosofia nos ensina falar com aparência de verdade sobre todas as coisas, e nos leva a ser admirado pelos menos eruditos. . . . [Contudo, apesar de] a filosofia ter sido cultivada por muitos séculos pelas melhores inteligências que jamais viveram, . . . não há, nela, uma só questão que não seja objeto de disputa, e, em conseqüência, que não seja dúbia" (DM, I, 84,86; cf. 90).

É o fato de que ele consegue duvidar da veracidade de tudo o que passa por filosofia que faz com que ele se torne cético em relação a ela, e que tenha certo desprezo pela filosofia tradicional. Se a filosofia vai ter lugar no universo de Descartes, ela terá que ser drasticamente revista.

O método de Descartes foi proceder de forma matemática, primeiro estabelecendo os princípios fundamentais, para a seguir derivar deles suas conseqüências, da mesma forma que teoremas são derivados de axiomas (Aune, 7-8, NKS, SCP, 27). Dessa forma, utilizando o método rigoroso do raciocínio matemático, ele esperava constuir, sobre bases firmes e sólidas, um edifício filosófico que ficasse imune à controvérsia fútil que havia caracterizado a filosofia que aprendera na escola (Aune, 7-8). A primeira etapa na construção desse edifício é a descoberta de princípios básicos ou axiomas, que funcionem como base e alicerce do edifício. A estratégia que ele utiliza para chegar a esses princípios foi a da dúvida sistemática: nada que pode ser duvidado é aceitável como fundamento de seu sistema. Assim sendo, na busca desse ponto de apoio, Descartes resolve duvidar, sistematicamente, de tudo. Ele se propõe submeter todas as suas crenças a uma revisão sistemática para tentar encontrar aquela(s) de que ele não consegue, realmente, duvidar. Essas crenças induvbitáveis lhe forneceriam a base para seu edifício, visto que seriam consideradas como absolutamente certas.

O Projeto Cartesiano

Na verdade, o projeto de Descartes é maior do que simplesmente reconstruir a filosofia. Ele quer fornecer um fundamento racional para as crenças das pessoas comuns bem como para a ciência que começava naquela época, da qual foi um defensor e para a qual fez contribuições importantes.
Um indivíduo (seja ele uma pessoa comum ou um cientista) desenvolve muitas de suas crenças antes de chegar à idade da razão. Mesmo depois da idade da razão, freqüentemente adquire crenças através do exercício não-crítico de sua atividade sensorial, de testemunhos não confiáveis de outros, de apelo a autoridades indignas de crédito. Quem pretende ser racional em suas convicções, tem, mais cedo ou mais tarde, de limpar a sua mente de todas as suas crenças, duvidando de tudo aquilo que é incerto e passível de dúvida, e reconstruindo suas crenças sobre um novo fundamento, certo e indubitável.

Descartes resume seu projeto:

Muitos anos atrás percebi quantas opiniões falsas vinha aceitando como verdadeiras desde minha infância, e quão dúbio tudo o que eu nelas baseava deveria ser. Decidi, então, que, se realmente quisesse estabelecer algo de sólido e duradouro nas ciências, teria que, deliberadamente, me livrar de todas as opiniões que até então aceitara e começar a construir tudo de novo, a partir do zero. . . . Não seria necessário, para os meus propósitos, mostrar que todas minhas convicções eram falsas -- tarefa que poderia nunca vir a concluir. Como a razão já me havia persuadido de que deveria deixar de acreditar tanto nas coisas que parecem ser manifestamente falsas como naquelas que não são inteiramente certas e indubitáveis, o menor fundamento para uma dúvida seria suficiente para me fazer rejeitar qualquer de minhas opiniões. Por isso, não precisei examinar cada uma de minhas convicções, individualmente, o que seria um trabalho interminável, mas apenas os fundamentos em que se baseavam, pois a destruição da fundação faz com que todo o edifício venha a ruir" (Medit I, 144-45, cr Aune, 8-9)

O objetivo de Descartes é, portanto, examinar o fundamento que existe para as várias categorias de crença que possuía. Se o fundamento de toda uma categoria de crenças pode ser questionado, as crenças baseadas nesse fundamento não podem ser tidas como inteiramente certas. Pode até ser que as crenças sejam verdadeiras, mas é também possível que sejam falsas, e, se é possível que sejam falsas, elas não podem ser consideradas indubitáveis. Talvez subseqüentemente, quando encontrar fundamentos certos e indubitáveis para suas crenças, Descartes possa voltar a aceitar algumas das crenças abandonadas e mostrar que são verdadeiras. Por enquanto, porém, ele as colocará de lado como suspeitas e indignas de credibilidade.

Cogito ergo sum

Cogito, ergo sum significa "penso, logo existo"; ou ainda Dubito, ergo cogito, ergo sum: "Eu duvido, logo penso, logo existo", (em latim, quando não funciona como verbo de ligação, o verbo sum - ser/estar - pode ser traduzido como 'haver', ou 'existir', com um sentido aproximado da sua ocorrência na construção "Era uma vez uma princesa...", equivalente aproximada de "Existiu, certa vez, uma princesa..."). 
A frase é uma conclusão do filósofo ematemático francês Descartes alcançada após duvidar da sua própria existência, mas comprovada ao ver que pode pensar e, desta forma, conquanto sujeito, ou seja, conquanto ser pensante, existe indubitavelmente. Descartes pretendia fundamentar o conhecimento humano em bases sólidas e seguras (em comparação com as fundamentações do conhecimento medievais). Para tanto, questionou e colocou em dúvida todo o conhecimento aceito como correto e verdadeiro (utilizando-se assim do ceticismo como método, sem, no entanto, assumir uma posição cética). Ao pôr em dúvida todo o conhecimento que, então, julgava ter, concluiu que apenas poderia ter certeza que duvidava. Se duvidava, necessariamente então também pensava, e se pensava necessariamente existia (sinteticamente: se duvido, penso; se penso, logo existo). Por meio de um complexo raciocínio baseado em premissas e conclusões logicamente necessárias, Descartes então concluiu que podia ter certeza de que existia porque pensava.
A frase "Cogito, ergo sum" aparece na tradução latina do trabalho escrito por Descartes, Discours de la Méthode (1637), escrito originariamente em francês e traduzido para latim anos mais tarde. O trecho original era "Puisque je doute, je pense; puisque je pense, j'existe" e, em outro momento, "je pense, donc je suis". Apesar de Descartes ter usado o vocábulo "logo" (donc), e portanto um raciocínio semelhante ao silogismo aristotélico, a idéia de Descartes era anunciar a verdade primeira "eu existo" de onde surge todo o desejo pelo conhecimento.

Leia mais:
http://www.cfh.ufsc.br/~wfil/moderna.htm
http://www.mundodosfilosofos.com.br/descartes.htm
http://www.consciencia.org/descartes.shtml
http://www.youtube.com/watch?v=YiyIQRCYock

sábado, 6 de agosto de 2011

Maquiavel


Mais de quatro séculos nos separam da época em que viveu Maquiavel. Muitos leram e comentaram sua obra, mas um número consideravelmente maior de pessoas cita seu nome ou pelo menos os termos que emergem de seu pensamento. "Maquiavélico e maquiavelismo" são adjetivo e substantivo que estão tanto no discurso erudito, no debate político, quanto na fala do dia-a-dia. Seu uso extrapola o mundo da política e habita sem nenhuma cerimônia o universo das relações sociais. Em qualquer de suas acepções, porém , o maquiavelismo está associado a idéia de maldade, a um procedimento astucioso, ardiloso, traiçoeiro. Estas expressões pejorativas sobreviveram de certa forma estáticas no tempo e no espaço, apenas migrando da luta política para as desavenças do cotidiano."

A VERDADE EFETIVA DAS COISAS 

O foco para Maquiavel sempre foi o Estado, não aquele imaginário e que nunca existiu; mas aquele que é capaz de impor a ordem! O ponto de partida e de chegada é a realidade corrente – por isto a ênfase na verità effetuale – ou seja: ver e examinar a realidade como ela é e não como se gostaria que fosse. O que Maquiavel se questiona incessantemente é: como fazer reinar a ordem – como instaurar um estado estável – como resolver o ciclo de estabilidade e caos. Ele chega a algumas conclusões interessantes – A ordem deve ser construída para evitar a barbárie. Uma vez alcançada, não é definitiva. 

NATUREZA HUMANA E HISTÓRIA 

Fiel ao conceito da verdade efetiva, Maquiavel estuda a história, sobretudo a antigüidade clássica. Conclui que qualquer que seja o tempo e o espaço o homem tem traços humanos imutáveis quais sejam: ingratos, volúveis, simuladores, covardes e ávidos de lucro – O Príncipe cap. XVII. Destes atributos negativos temos os fundamentos para o conflito e a anarquia. 

Para Maquiavel o estudo do passado indicará os acontecimentos que se sucederão em qualquer estado e também quais os meios empregados para solucionar problemas pela coincidência ou similaridade. Segundo Maquiavel, os principados são dois os tipos de principados: REPUBLICA ou PRINCIPADOS. 

Os Principados podem ser hereditários ou novos. 

Principados mistos: Quando não são inteiramente novos. 

Maquiavel aconselha que quem adquire um território, desejando conserva-lo, deve tomar em consideração duas coisas: UMA, que a estirpe do seu antigo príncipe desapareça; a OUTRA, não alterar as suas leis, nem os seus impostos. Assim, dentro de um brevíssimo tempo, formam um corpo só. Quando o príncipe reside em seu domínio, dificilmente acontece de vir a perde-lo. Outro meio igualmente eficaz e mandar colonizar algumas regiões que sejam como chaves do novo Estado. 

Esta medida e pouco dispendiosa ou nada custa alem de descontentar uns poucos. Apenas aqueles de que se tira os campos para dar aos novos habitantes. Neste caso, os lesados por ficarem pobres e dispersos, nunca poderão acarretar-lhe embaraços 

Note-se, dizia Maquiavel, que os homens devem ser suprimidos ou lisonjeados, pois se vingam das ofensas leves, mas não podem faze-lo das graves. Por conseguinte, a ofensa que se faz ao homem deve ser tal, que o impossibilite de tirar desagravo. Em sua opinião o exercito e dispendioso e causa descontentamentos a uma gama muito maior que a colônias, por isso, considerava-os inúteis. Quando se conquista um pais acostumado a viver segundo as suas próprias leis e em liberdade, três maneiras ha de proceder para conserva-lo- : DESTRUI-LO; ou IR MORAR NELE; ou DEIXA-LO VIVER COM SUAS LEIS. 

Sobre os novos Principados conquistados dizia “ Os Estados rapidamente surgidos, como todas as outras coisas da natureza que nascem e crescem depressa, não podem Ter raízes e as aderencias necessárias para a sua consolidação. – Extingui-los a, a primeira borrasca, a menos que seus fundadores eram tão virtuosos que saibam imediatamente preparar-se para conservar o que a fortuna lhes concedeu e lancem depois alicerces idênticos aos que os demais príncipes construíram antes de tal se tornarem. Segundo Maquiavel, existem ainda duas outra maneiras de um simples cidadão chegar ao poder que não por meio da fortuna ou da virtude – através da pratica de ações celeradas e nefastas ou favor dos outros concidadãos. 

Quando um cidadão chega ao poder por meio da ajuda dos seus concidadãos, o principado pode ser chamado de civil e para alguém governa-lo, não precisa Ter exclusivamente VIRTUDE ou FORTUNA, mas sim ASTUCIA AFORTUNADA. Quem chega ao poder com o auxilio dos grandes, tem maiores dificuldades do que aquele que chega com o apoio dos vulgos. 

Desejo do povo e ficar livre de opressão enquanto os grandes querem oprimir o povo. Na sua opinião, o governo de um desses Estados começa a vacilar quando da ordem civil passa a MONARQUIA ABSOLUTA. 

Aconselha a que o príncipe deve fazer com que seus súditos necessitem sempre do Estado e dele porque a ele se submeterão. 

ANARQUIA x PRINCIPADOS E REPÚBLICA 

Aliada a desordem, característica da natureza humana, existe a presença de duas forças opostas em qualquer sociedade: 

a) Não querer ser dominado nem oprimido pelos grandes,.....e 
b) Os grandes querem dominar e oprimir. 

Para Maquiavel só há dois caminhos que respondam à anarquia da natureza humana e ao confronto entre os dois grupos sociais: O Principado ou a República. 
A escolha de um ou de outro não é obra do acaso mas recai sobre fatos e situações concretas como se vê: 

a) Nação ameaçada de deterioração, corrupção alastrada = necessita de um governo forte que iniba as forças centrífugas = Principado – não necessariamente um ditador, mas um estadista. 
b) Sociedade equilibrada na qual o poder político cumpriu a função regeneradora e educadora = República. As instituições são estáveis e os conflitos indicam cidadania ativa. 

VIRTÙ X FORTUNA 

Virtù é, como vimos, energia, vontade dirigida para um objetivo. 
Fortuna é sorte(boa ou má), acaso ou oportunidade (propícia ou desfavorável). No caso do príncipe é o momento certo, antecipadamente calculado por ele; momento no correr do tempo porém o momento com certeza de êxito garantida pela perspicácia do príncipe. A crença na predestinação ou fatalidade dominava a muito tempo. A atividade política era uma prática de homens livres, o homem como sujeito da história. Este era um dogma contra o qual Maquiavel teria que lutar. 

A fortuna era uma deusa que possuí-a os bens que o homem deseja possuir: honra, riqueza, glória e poder. Era importante seduzi-la antes que outros o fizessem. Como era deusa - mulher era necessário mostrar-se vir homem de inquestionável coragem. Desta forma o homem que possuísse uma virtù no mais alto grau seria agraciado com a fortuna. Maquiavel na sua obra O Príncipe monta um cenário para comprovar que é possível se estabelecer uma aliança com a virtù pois parece haver um sentido de complementaridade e não de sobreposição. 

O poder que nasce da própria natureza humana encontra sua base na força mas o importante é a sabedoria no uso da força; ao governante para se manter no poder não basta ser simplesmente o mais forte – ele deve possuir virtù para manter o domínio adquirido. 


A Estratégia em “O Príncipe” 

Como se deve medir as forças de todos os principados? 

1) Deve-se verificar se o príncipe tem condições de oferecer resistência sozinho a quem lhe ataca, isto é, dinheiro e exército para resistir. 
2) Se necessita de ajuda alheia para defender seu trono, ou seja, refugia-se dentro dos muros de sua cidade para defender estes. 

Dos principados eclesiásticos 

Para conquistá-los basta virtude e sorte e para conservá-los não necessitam nem de uma ou outra coisa, pois as instituições religiosas são tão sólidas de tal natureza que permitem aos príncipes manterem-se no poder seja qual for o modo de procederem ou que vivem. 

Diz-se que estes principados são os únicos seguros e felizes. 

Obs.: Maquiavel diz isso porque nesta época a Igreja Católica Medieval era muito poderosa, estando acima e no topo da hierarquia máxima do estado medieval. 

Dos soldados mercenários 

Um príncipe para ter um estado forte é necessário que ele tenha um bom exército e boas leis. 

As tropas mercenárias ou auxiliares são inúteis e perigosas, o rei nunca terá tranqüilidade e nem segurança, pois elas são desunidas, ambiciosas, sem disciplina, infiéis, corajosas diante dos amigos e covardes diante dos inimigos e sem temor a Deus. Querem ser soldados do patrão enquanto ele não faz guerra, mas ao romper esta, querem fugir ao compromisso. 

Dos deveres de um príncipe para com a milícia 

O príncipe não deve cultivar outra arte a não ser a da guerra juntamente com as regras que ela requer para conservar seu estado. 

Obs.: “Manter sempre forte seu exército, em sempre estar aliado a ele.” 
Das coisas pelas quais um homem ou príncipe são louvados ou censurados 

Faça o que for necessário para não cair em ruína o seu trono, mesmo que seja censurado. 

Na escolha, do que se deve fazer, encontrará algo com aparência de virtude, que cuja adoção lhe trará a ruína, e algo com aparência de defeito que o conduzirá a uma situação de segurança e bem-estar. 

De que maneira os príncipes devem cumprir suas promessas 

1º Só deverá cumpri-las se forem benéficas. 

Saiba que existe dois modos de combater: é pela lei ou pela força, não sendo muitas vezes suficiente a primeira convém recorrer a segunda. 

Um príncipe sábio não pode e nem deve manter-se fiel as suas promessas quando extinta a causa a que o levou fazê-las. Este preceito não servia se todos os homens fossem bons, como são maus por isso faltariam com a palavra que deram e nada impede que venhamos faltar com a nossa também. 

Justificativa para o não cumprimento da promessa feita. “Os homens em geral formam suas opiniões guiando-se pela vista, do que pelo tato; vê o que parecemos ser, e não sentem o que realmente somos. Os homens são tão simplórios e obedecem de tal forma as necessidades presentes que aquele que engana encontrará sempre quem se deixe enganar. É necessário a um príncipe que ele tenha um espírito pronto adaptar-se as variações das circunstâncias e da fortuna e manter-se quanto possível no caminho do bem, mas pronto igualmente a enveredar pelo do mal, quando for necessário. 

Como se deve evitar o desprezo e o ódio 

O príncipe deve em geral abster-se de praticar o que o torne malquisto ou desprezível. 

O que acarreta ódio dos súditos é usurpar os seus bens e as suas mulheres, pois os homens vivem contentes enquanto ninguém lhes toca nos haveres e na honra. 

O desprezo incorre quando os seus governados o julgam, inconstante, leviano e irresoluto. 

Tem de ter o máximo de cuidado, esta reputação é perigosa, seus atos devem ser de grandeza, coragem, austeridade e vigor. 

Como deve portar-se um príncipe para ser estimado 

Torna-se estimado quando sabe ser verdadeiro amigo ou inimigo, isto é, quando abertamente se declara a favor de alguém e contra outrém, é sempre melhor que manter-se neutro. 

Deve mostrar-se também amante da virtude, premiando os homens que se sobressaiam. 

Deve incutir nos seus súditos a idéia que poderão praticar seu ofício em paz, seja no comércio, agricultura, ou qualquer outro, para que estes não criem outros ramos de atividades para fugir dos impostos. “Idéia de Liberalismo.” 
Deve distrair o povo com festas durante certas épocas do ano e manter o controle sobre os grêmios ou corporações que divide a cidade. “Idéia de pão e circo.” “Futebol”. 

PRINCIPADOS 

“Território ou Estado cujo soberano é um príncipe ou princesa.” 

Podem ser Hereditários ou Novos. 

Maquiavel não atribuía interesse aos Principados Hereditários, pois são demasiados estáveis, demasiado fáceis, pois basta ao Príncipe “não ultrapassar os limites estabelecidos pelos antepassados e contemporizar com os acontecimentos”. As verdadeiras dificuldades, tanto para conquistar quanto para conservar encontram-se nos principados novos. Maquiavel propôs um código prático de anexação, devendo-se levar em conta na avaliação o modo de governo, se é despótico (tirano), aristocrático (nobreza) ou se é republicano (livre). 

Maquiavel se move no domínio do fato, isto é a força, pois o triunfo do mais forte sendo o fato essencial da história humana, e isto era bastante natural para Maquiavel e seus contemporâneos, é um fato natural, banal. 

“O desejo de conquistar é sem dúvida algo de ordinário e natural, e todo aquele que se entrega a tal desejo, quando possui os meios para realizá-lo é antes louvado que censurado; mas formar o desígnio sem poder executá-lo é incorrer na censura e cometer um erro ...” 

Precisa-se Ter forças para conquistar, assim para conservar. 

A razão primeira e última da política do príncipe é o emprego dessas forças de guerra. 

Para todo Estado antigo, novo ou misto, “as principais bases são: boas leis e boas armas.” 

Não há boas leis onde não há boas armas. 

Boas armas, boas tropas, são apenas as que pertencem ao príncipe, compostas de seus cidadãos, de seus súditos, de suas criaturas. 

Para Maquiavel existem quatro maneiras de conquistar, as quais poderão corresponder à diferentes maneiras de conservar ou de perder. 
a) Conquista pela própria “Virtu” (energia, vigor, resolução, talento, valor bravio e se necessário feroz); 
b) Conquista pela Fortuna e pelas armas alheias; 
c) Conquista pela Perversidade; 
d) Conquista pelo Consentimento dos concidadãos. 

Maquiavel interessa-se mais pelas duas primeiras maneiras. 

Os que se tornaram príncipes pela própria “Virtu” e pelas próprias armas, conhecem muitas dificuldades para conquistar e instalarem seus principados, para nele se radicarem, mas depois encontram muita facilidade para conservá-lo. 

Os Principados conquistados com as armas alheias, isto é, pela fortuna, a regra é inversa: facilidade para conquistar, dificuldade para conservar. É também possível tornar-se Príncipe por meio das perversidades: Para Maquiavel existem dois tipos de crueldades: as bem praticadas e as mal praticadas. 

As bem praticadas, são as que se cometem todas ao mesmo tempo, no início do reinado a fim de prover a segurança do novo Príncipe. Parecem menos amargas, ofendem menos. 
As crueldade mal praticadas são aquelas que se arrastam, se renovam, e pouco numerosas no princípio se multiplicam com o tempo em vez de cessarem. Os súditos perdem então o sentido de segurança. 

Tenha o cuidado de ofender os impotentes se possível. Se é obrigado a ofender os poderosos, seja radical na ofensa. 
A conquista pelo fator dos concidadãos exige alguma fortuna e alguma “virtu”. Ora é o povo, ora são os grandes que assim constituem um Príncipe. 

O Príncipe elevado pelos grandes – que se julgam seus iguais, que são insaciáveis, e aos quais não domina – encontra uma dificuldade em manter-se do que um Príncipe elevado pelo povo. 

O Príncipe elevado pelos grandes, contra a vontade do povo, deverá fazer tudo para se reconciliar o quanto antes com o povo. 

Fica transparente a preferência de Maquiavel pelo povo e sua hostilidade para com os grandes. 

Maquiavel não se interessa por estes principados chamados de “civis” e nem pelos Eclesiásticos, que adquirem pela fortuna, e para conservá-los não precisa nem de fortuna e nem de “virtu”. Basta o poder das instituições religiosas. 

Distinção entre os Estados a conquistar: 

Despótico: Difícil de conquistar porque todos os súditos se agregam ao redor do Príncipe e nada tem a esperar do estrangeiro. É fácil conservar, bastando para isso extinguir a raça do Príncipe. 

Aristocrático: Fácil de conquistar. Sempre tem descontentes prontos para abrir o caminho para o estrangeiro. Difícil de conservar, pois não é possível satisfazer a todos os grandes e nem extinguí-los de todo. 

República: Difícil de manter. Existe um princípio de vida mais ativo, um ódio mais profundo, um desejo de vingança muito mais ardente, causada pela lembrança da antiga liberdade. 

Maquiavel não consegue ocultar sua preferência, ternura e admiração pelos governos livres. 

Os três meios para domar a liberdade republicana são: 

a) Venha o Príncipe residir nas terras conquistadas para reprimir as desordens; 
b) Governe o país conforme suas leis, pelos próprios cidadãos recebendo um tributo. 
c) O meio radical: destruir, aniquilar a antiga e incurável República. 

EM O PRÍNCIPE 

Maquiavel aproveitou a ocasião de mostrar o perfil de César Borgia, tipo de príncipe novo, modelo de virtuosidade política, em oposição a Luís XII, príncipe hereditário que acumula as faltas. O principal da obra está nos capítulos XV a XX, e que constituem a essência do maquiavelismo. Subentende-se os deveres do príncipe cristão. O novo príncipe vive no seio do perigo, acompanhando-o dois receios: 
1) o interior de seus estados e o proceder dos súditos; 
2) o exterior e os disignios das potências circundantes. 

O príncipe deve aprender a não ser sempre bom, a ser ou não ser bom “conforme a necessidade”. O príncipe deve conservar o seu reino. 

O autor está desiludido com ou outros homens. Distingue perfeitamente o bem e o mal, e que até preferiria o bem, mas que recusa fechar os olhos ante o que julga ser a necessidade do Estado, ante o que julga serem as sujeições da condição humana. 

Para um príncipe ser considerado liberal, generoso é bom, todavia ser parcimonioso é um dos vícios que fazem reinar. Igualmente o príncipe deseja ser considerado clemente, mas é a crueldade que restabeleceu a ordem e a união na Romagna. Donde surge a questão clássica: Mais vale ser amado que temido, ou temido que amado? É melhor ser temido. Porque? Os homens são ingratos. O vínculo do amor rompem-no ao sabor do próprio interesse, enquanto o temor se conserva por um medo do castigo, que jamais os abandona. Ser temido não significa ser odiado. Há uma singela receita para evitar o ódio: é abster-se de atentar, seja contra os bens dos súditos, seja contra a honra de suas mulheres. 

Os príncipes que fizeram grandes coisas violando a sua fé, impondo-as aos homens pela astúcia, é que acabaram por dominar aqueles que se baseavam na lealdade. O príncipe deve escolher por modelo a raposa e o leão. Deve tratar de ser simultaneamente a raposa e leão, pois, se for apenas leão, não perceberá as armadilhas; se for apenas raposa, não se defenderá contra os lobos. Quando se é príncipe, pode-se “deixar de encontrar razões legítimas para colorir a falta de cumprimento” do que se prometeu. 

O novo príncipe deve observar em jamais tornar poderoso outro príncipe, pois seria trabalhar para sua própria ruína. Também o novo príncipe não se deve permanecer neutro, pois os que abraçam esta posição quase sempre vão a ruína. 

Somente um príncipe já sábio por si mesmo pode ser bem aconselhado. Deve tomar conselho quando quer e não quando outros o querem. Jamais se deixar dominar por aqueles que o aconselham. Um bom ministro é aquele que nunca pensa em si mesmo, mas sempre no príncipe. Mas o príncipe também deve pensar neste seu ministro, cumulando-o de riquezas, de consideração, de honras e dignidades, para que receie toda mudança. 

O SEGREDO DE MAQUIAVEL. 

Nos últimos 03 capítulos de O Príncipe (sobretudo no XXVI), Maquiavel revela seu grande segredo: A Itália. Um violento amor da pátria despedaçada, subjugada e devastada. O sonho de um libertador, de um redentor da Itália atormenta Maquiavel. 
No capítulo XXIV, manifesta Maquiavel seu desprezo aos príncipes italianos, tais como o rei de Nápoles, o Duque de Milão, que, após uma longa posse, perderam seus Estados. 

No último capítulo (XXVI), diz o autor que na Itália, nunca as circunstâncias foram tão favoráveis a um príncipe novo que queira “tornar-se ilustre”. 


O DESTINO DA OBRA 

Lourenço de Médicis recebeu O Príncipe em manuscrito. Não lhe dispensou atenção alguma. Nas mãos de contemporâneos onde circulou o manuscrito, o interesse foi medíocre. 

A partir de 1519, recupera Maquiavel certo favor dos Médicis, mas devido sua reputação de funcionário prudente, de hábil político, e não por causa de O Príncipe. Recebe uma pensão para escrever a sua História de Florença. Em 1527 os Médicis são de novo expulsos de Florença, restabelecendo-se a República, e a 22 de junho de 1527, aos 58 anos de idade, NICOLAU MAQUIAVEL falece, vítima de males intestinais. 

Quatro anos após sua morte, O Príncipe é publicado, com um breve de autorização do Papa Clemente VI (1531); a edição é dedicada a um cardeal. Inicialmente inofensiva, as edições vão se multiplicando. A Renascença pagã. sucedeu a Reforma protestante, que obrigou a própria Igreja a reformar-se interiormente. Assim o livro de Maquiavel achou-se envolvido nos turbilhões de vastas contendas. O Cardeal - Arcebispo de Canteerbury, Reginald Pole, católico, julga O Príncipe escrito “pela mão do Demôniuo”. Em1557, o escrito indigno e celerado denunciado pelo Papa Paulo IV; é condenado pelo Concílio de Trento, e muitas outras acusações. Também os protestantes abominam Maquiavel como jesuíta. Os jesuítas o denunciam à indignação católica. 

Porém os soberanos e primeiros ministros, apaixonados do Poder, fazem de O Príncipe, breviário do absolutismo, o livro de cabeceira. Por volta de 1738, Frederico, príncipe real da Prússia, compõe um Antimaquiavel, homenagem de um “filósofo”, de um futuro “déspota esclarecido”, ao idealismo político, ao otimismo do século. 

Mas Maquiavel, “simulando dar lições aos reis, deu grandes lições aos povos”. 

Napoleão aparece a seus inimigos, como a realização mais perfeita do príncipe. Maquiavel tem direito à mais fervorosa gratidão da Itália unificada de 1870, e dos democratas do mundo inteiro. Na segunda guerra mundial, julgou-se a derrota de Hitler como a derrota de Maquiavel. Mas a derrota de Hitler é em grande parte a vitória de Stalin. No entanto, a força corrosiva do pensamento e do estilo de Maquiavel ultrapassaram, de infinita distância, o objeto do momento. Por ter realçado tão cruelmente o problema das relações entre a política e a moral; por ter concluído, em uma cisão profunda, uma irremediável separação entre elas, 

O Príncipe atormentou a humanidade durante quatro séculos. E continuará a atormentá-la, senão eternamente”, como se disse, - ao menos enquanto essa humanidade não tiver analisado inteiramente certa cultura moral, herdada, no que diz respeito ao Ocidente, de alguns Antigos célebres, e, sobretudo, do cristianismo.

Fontes:

culturabrasil.org
brasilescola.com
pensador.com
cienciapolitica.org