sexta-feira, 10 de julho de 2015

Francis Bacon: pensando a ciência


Francis Bacon (1561-1626) foi um filósofo natural Inglês que usou o raciocínio indutivo, na tentativa de melhorar os erros cometidos por Aristóteles, e é conhecido por promover o método (científico). Como Bacon nunca realmente fez alguma descoberta experimental, nem tinha um laboratório para trabalhar, por que ele foi dado o máximo de crédito e é considerado um dos mais proeminentes filósofos naturais?

O título da obra de Bacon, Novum Organum (1620), é baseada na obra de Aristóteles sobre lógica. Organum  é traduzido em Português como o instrumento do pensamento racional, Bacon propôs um novo estilo de raciocínio para substituir o trabalho de Aristóteles. A filosofia aristotélica foi baseada em um conjunto de regras que regeram a coerência entre uma conclusão e uma fundação que foi aceito inquestionavelmente como verdade, a filosofia de Bacon era o oposto. Antes e durante o tempo de Bacon, existiram filosofias que estavam enraizadas na fé pura e não tanto na razão, essas filosofias ultrapassadas foram promovidas pela igreja. Seu estilo foi investigar os fundamentos do trabalho com base na teoria científica de Aristóteles, seu objetivo era colocar a natureza à prova.

A abordagem indutiva

Bacon é mais comumente conhecido por defender a abordagem indutiva para a ciência. Ele argumentou que tinha havido progressos limitados ao longo dos tempos devido ao fato de que os filósofos escolásticos alteraram as suas conclusões sobre a natureza para satisfazer as exigências da escritura. Bacon delineou os princípios do método de raciocínio indutivo, enquanto o termo "método" remonta aos tempos de Aristóteles, Bacon constituiu um avanço na abordagem da ciência. Ele denunciou os pensadores escolásticos de seu apego à doutrina aristotélica, que ele sentia que havia um impedimento ao pensamento independente e a aquisição de novas ideias sobre a natureza. Ele argumentou que, para melhorar a qualidade da vida humana, o avanço da ciência não deve depender de textos antigos, e que as autoridades de idade devem ser consideradas redundantes e desnecessárias. Ele acreditava que o conhecimento deve ser perseguido de uma maneira nova e organizada. Sua ideia de uma abordagem indutiva incluiu a observação cuidadosa da natureza com a acumulação sistemática de dados para recorrer. Novas leis foram logo criadas com base no conhecimento dos resultados específicos através de testes e experimentação. Qualquer filósofo natural que aderiu a este método não baseou suas descobertas em mitos fora do prazo de validade, mas, ao invés disso, basearam seus resultados em fatos observáveis. Foi esse tipo de teoria materialista que trouxe as grandes descobertas de Copérnico e Galileu. Bacon podia ver que o único conhecimento de grande importância para a humanidade foi empiricamente enraizado no mundo natural, e que um sistema claro de investigação científica poderia garantir o domínio sobre o mundo material.

Bacon foi um dos primeiros a apreciar o valor da nova ciência para a vida humana. Ele afirmou que o conhecimento deve ajudar a utilizar a natureza para proveito humano e deve melhorar a qualidade de vida através do avanço do comércio, indústria e agricultura. Ele acreditava que o conhecimento é poder, e ele pediu ao governo para criar instituições científicas para incentivar o avanço da tecnologia e das artes mecânicas.
 
Em seu livro "Escala do entendimento" (1605), Bacon propôs um método científico através da experimentação empírica indutiva. Ele acreditava que os experimentos devem ser cuidadosamente registrados para que os resultados sejam fieis e possam ser repetidos. Ele defendeu o mundo da ciência sobre o mundo secreto e misterioso da magia. Ele ressaltou o que o impacto prático dessa descoberta científica englobava e até mesmo escreveu uma obra utópica na qual a ciência foi a salvadora do futuro da humanidade. Embora Bacon não fosse um investigador científico a si mesmo, ele usou a influência política para apoiar os projetos científicos com o uso do raciocínio indutivo, na Inglaterra.

Sua filosofia foi contrastada pela posição assumida da Igreja Católica na época. A Igreja tinha tomado a ofensiva em preservar o núcleo de seu patrimônio, e esta nova ciência parecia ser um ato de heresia. Desde que Nicolau Copérnico (1473-1543) publicou seus pontos de vista sobre um universo heliocêntrico, um novo ceticismo surgiu entre os intelectuais europeus. A cada ano novas teorias competiram com as antigas e várias explicações contraditórias sobre os fenômenos mais comuns foram avançadas e debatidas. O julgamento de Galileu Galilei (1564-1642) desacelerou o ritmo da investigação científica nos países europeus católicos e causou conflito entre autoridade e conhecimento. Os céticos concluíram que nada se sabe e nada era cognoscível. Esta nova perspectiva ultrajante inevitavelmente levou à mais chocante de todas as ideias possíveis "o ateísmo". No entanto, alguns dos principais cientistas já viam uma contradição entre os seus estudos e sua fé. Em meados do século, os ataques à Igreja foram aumentando e alguns culparam a nova ciência da razão indutiva por esses ataques filosóficos.


Fonte:

afilosofia.com.br

periodicos.ufsc.br

quinta-feira, 2 de julho de 2015

Simone de Beauvoir e a filosofia



Em 1857, a sociedade francesa escandalizou-se com a publicação de uma novela dramática de Gustave Flaubert. Tratava-se de um relato ficcional, escrito com crueza e realismo, sobre a esposa de um médico rural, Ema Bovary, que depois de ter praticado adultério se suicidara. Livro que serviu de velada condenação ao comportamento feminino e das forças que se combinavam por desgraçar a mulher. Quase um século depois, em 1949, a mesma sociedade foi novamente abalada, desta vez por um contundente ensaio publicado por uma das mais famosas escritoras do país: Simone de Beauvoir. O título era O Segundo Sexo, livro que desde então correu o mundo e contribuiu definitivamente para a emancipação da mulher contemporânea.

Simone de Beauvoir, todavia, não deve ser entendia como um fenômeno exclusivo da sua época, do século XX, o centênio que mais estendeu cidadania e direitos às mulheres em geral. Ao contrário, era herdeira de uma tradição de engajamento nas causas femininas que se originava dos tempos da Revolução Francesa de 1789, quando mulheres como Theroigine de Méricourt, fundara o clube misto dosAmigos da Lei, em 1790, e Olympe de Gouges, redigira a Déclaration des droits de la femme et de la citoyenne, de 1791, documento histórico primeiro a reclamar abertamente os direitos iguais para homens e mulheres.

Exigência que foi ainda mais reforçada pela exuberante Flora Tristan, militante socialista, autora de Peregrinações de uma paria, de 1837, e do União Operária, de 1843, defensora da igualdade de operários e operárias, luta que teve continuidade na formação dos Batalhões Femininos da República que saíram às ruas da França na defesa do cumprimento da Lei Ferry, de 1881, que determinava ao acesso das mulheres ao ensino público.

Mesmo com esse ativismo militante, as mulheres francesas chegaram tardiamente à cidadania, apenas consagrada na constituição de 1946. Muito depois das americanas, inglesas, alemãs e russas que alcançaram o direito de voto bem antes delas, ao redor de 1918.

Com total independência de Sartre, Simone dedicou-se por alguns anos do após-guerra a uma intensa e detalhada pesquisa em bibliotecas recolhendo material para o seu ensaio intitulado Le Deuxième Sexe, O Segundo Sexo, dois volumes de mil páginas aparecido em maio de 1949, e que lhe deu projeção quase que universal. A intenção dela era demonstrar que apesar da enorme evolução ocorrida ao longo do século XX, perdurava sobre o sexo feminino uma posição de subordinação e inferioridade que bem poucos aceitavam em denunciar ou condenar. Inclusive as próprias mulheres.

O que lhe valeu, logo que a obra chegou ao público, ser alvo de críticas que explodiram de todos os lados, taxando-a de "sufragete da sexualidade" e de "amazonas existencialista". Ou ainda de ter escrito um "manual de egoísmo erótico" e de ter exposto "audaciosas pornografias" que ostensivamente manifestavam o "egotismo sexual" dela.

Não importava a época ou o período histórico, fosse o antigo ou o moderno, para Simone permanecia a idéia do "eterno feminino", isto é, um conjunto de características imutáveis que eram impostas às mulheres pelo mundo masculino. Elas variavam em atribuir a elas permanentes "pendores naturais" para o matrimônio e a maternidade, até os abertamente ofensivos que as acusavam de desempenharem papéis menos louváveis que punham os homens a perder, fossem como sedutoras, feiticeiras ou bruxas.

Denunciou a existência da distinção feita entre o ser feminino, situação biogenética determinada pela natureza, e a mulher, uma construção idealizada de cada época histórica que, por assim dizer, "escalpe" uma mulher adequada aos ideais e interesses masculinos. Em geral pouco concedendo dela ir além de ser esposa e mãe e nada mais.

Daí o sentido da sua célebre afirmação que correu o mundo desde então: "Não nascemos, mas sim nos tornamos mulher". Para ela era evidente a necessidade de superar o "eterno feminino", visão que engessava a mulher, para a "condição feminina", momento de denúncia que mostrava a situação de opressão que elas viviam há séculos e que apesar dos avanços da sociedade moderna ainda estavam longe de serem abolidos.

Simone de fato, especialmente no primeiro volume do seu ensaio, que é acima de tudo um magnífico estudo sócio-antropológico e histórico da situação feminina através dos tempos, fez um minucioso requisitório de tudo aquilo que ao longo da história assacaram contra elas, frases dos mais diversos escritores, poetas e filósofos, desde os gregos e romanos.
De Hesíodo ("quem se confia a uma mulher, confia-se a um ladrão"), passando pelo bispo Bossuet ("Eva não passava de uma parcela de Adão e de uma espécie de diminutivo"), até os escritores católicos do século XX, demonstrando como, ao longo da história, significativos nomes do universo masculino cerravam fileiras na tarefa de deprecia-las. Até mesmo Jean-Jacques Rousseau, homem dado à mansidão e ao culto à bondade natural, reiterou que a instrução delas "deve ser relativa ao homem. A mulher é feita para ceder ao homem e suportar-lhe as injustiças".

Numa passagem famosa ela então registrou: "Os dois sexos jamais partilharam o mundo da igualdade, e hoje em dia ainda, se bem que a condição evoluiu, a mulher ainda fica muito atrás. Praticamente em nenhum país a sua posição legal é idêntica a do homem, havendo sempre uma desvantagem considerável. Ainda que os seus direitos sejam abstratamente reconhecidos, um longo hábito impede que eles se encontrem nos meios e nas expressões concretas. Economicamente, homens e mulheres constituem praticamente duas castas(...) os primeiros encontram-se em situações mais vantajosas, com os salários mais elevados, com maiores chances sobre suas concorrentes de data mais recente. Além dos poderes concretos que eles possuem, eles encontram-se revestidos de um prestígio que desde a educação infantil mantém a tradição. As atribuições do casamento assomam-se bem mais pesadas para a mulher do que para o homem(...); as servidões da maternidade reduziram-se pelo uso confessado, ou ainda clandestino, do controle dos nascimentos, mas a prática não se expandiu universalmente nem foi rigorosamente aplicada. Os cuidados das crianças e as exigências do fogão ainda são assumidas quase que exclusivamente pela mulher. Ainda que as elas trabalhem nas usinas, nos escritórios, nas faculdades, continuam a considerar que para elas o casamento é uma carreira das mais honoráveis o que as dispensa de qualquer outra participação na vida coletiva."


Fonte:

educaterra.com.br

DE BEAUVOIR, Simone. O segundo sexo: Fatos e Mitos. 8.ed.. Trad. Sergio Milliet. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980. v. 1.