sexta-feira, 20 de maio de 2011

Lutero

#Apontada como a primeira religião criada ao longo das Reformas Protestantes, o Luteranismo foi uma religião criada em meio às questões sócio-políticas do Sacro Império Germânico. Ainda arraigado aos entraves do feudalismo, o Sacro-Império contava com um conjunto de principados que tinham mais de um terço de suas terras dominados pela Igreja Católica.

Diante do poder e da autoridade dos clérigos, a relação entre a nobreza e a Santa Igreja já se mostrava abalada mesmo antes de chegarmos ao surgimento das polêmicas levantadas pelas ideias do padre e professor Martinho Lutero. Ao longo de seus estudos, Lutero começou a criticar pontos, considerados, fundamentais da doutrina católica. No ano de 1517, ele censurou a venda de indulgências e outras práticas da Igreja na obra As 95 Teses. Escrita em alemão, a obra ganhou popularidade e chegou ao conhecimento dos clérigos católicos.

Contra as idéias de Lutero, o papa Leão X, em 1520, redigiu uma carta condenando sua obra e exigindo a retratação do monge, ameaçando-o de excomunhão. Em 1521, sob ordens do imperador Carlos V, Lutero foi convocado a negar suas idéias num encontro chamado Dieta de Worms. Durante o encontro Lutero reafirmou suas crenças e foi considerado herege. Mesmo com a oposição da Igreja, setores da nobreza alemã resolveram proteger Martinho Lutero.

Durante esse período, Lutero se dedicou a traduzir do latim para o alemão e publicar a chamada Confissão de Augsburgo. Essa última publicação continha as bases da doutrina luterana que, entre outros pontos, defendia a salvação pela fé, a livre interpretação do texto bíblico, a negação do celibato e da adoração à imagens, a realização de cultos em língua nacional e a subordinação da Igreja ao Estado.

Essa nova religião, mesmo contendo pontos que favoreciam o poder nobiliárquico, também foi responsável pela incitação de uma série de revoltas populares contra a ordem estabelecida. Nesse período, várias terras foram invadidas e igrejas foram saqueadas pelos alemães. Condenando os movimentos insurgentes, Lutero apoiou as forças senhoriais que reprimiram o movimento.

Apenas em 1555, com a assinatura da Paz de Augsburgo, os conflitos sociais e religiosos cessaram de vez. No tratado estabelecido, os príncipes alemães teriam o direito de adotar livremente qualquer tipo de orientação religiosa para si e seus súditos.

A Reforma Luterana

O movimento de reforma religiosa deve ser compreendido dentro de um quadro maior de transformações, que caracterizam a transição feudo capitalista. Durante a Baixa Idade Média, a Europa passou por um conjunto de transformações sociais econômicas e políticas, que permitiram a uma nova sociedade, questionar o comportamento do clero e a doutrina da Igreja.

Fatores da Reforma:

1) A crise interna à Igreja era caracterizada pelo comportamento imoral de parte do clero, situação que se desenvolvera por séculos, desde a Idade Média. A simonia era uma prática comum, secular, caracterizada pela venda de objetos considerados sagrados ou a venda de cargos religiosos. Os grandes senhores feudais compravam cargos eclesiásticos como forma de aumentar seu poder ou garantir uma fonte de renda para seus filhos, originando um processo conhecido como "investidura leiga", principalmente no Sacro Império. A preocupação com as questões materiais -- poder e riqueza- levou principalmente o alto clero a um maior distanciamento das preocupações religiosas ou mesmo de caráter moral. O nicolaísmo retrata um outro aspecto do desregramento moral do clero, a partir do qual o casamento de membros do clero levava-os a uma preocupação maior com os bens materiais, que seriam deixados em herança para os filhos e a partir daí determinavam o comportamento "mundano" dessa parcela do clero.

2) A ascensão da burguesia, possuidora de uma nova mentalidade, vinculada a idéia de lucro e que encontrava na Igreja Católica um obstáculo. A Igreja desde a Idade Média procurava regular as atividades econômicas a partir de seus dogmas e nesse sentido condenava o lucro e a usura (empréstimo de dinheiro à juros) inibindo a atividade mercantil, burguesa. Vale lembrar que a burguesia européia nasce cristã e dessa forma passará a procurar uma forma de conciliar suas atividades econômicas e o ideal de lucro com sua fé.

3) A ascensão do poder real; no século XVI formava-se ou consolidava-se o absolutismo em diversos países europeus e o controle da Igreja ou da religião passou a interessar aos reis como forma de ampliar ou legitimar seu poder, explicando a intolerância religiosa que marcará a Europa nos séculos seguintes. O melhor exemplo desse vínculo entre a nova forma de poder e a religião surgirá na Inglaterra com a criação de uma Igreja Nacional, subordinada a autoridade do Rei.

4) A mentalidade renascentista refletiu o desenvolvimento de uma nova mentalidade, caracterizada pelo individualismo e pelo racionalismo e ao mesmo tempo permitiu o desenvolvimento do senso crítico, impensável até então, determinando um conjunto de críticas ao comportamento do clero.

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