sexta-feira, 5 de outubro de 2012

A liberdade infinita do Eu



O mais audacioso dos pós-kantianos foi Johann Gottliebe Fichte (1762-1814), que conciliou os dualismos kantianos em um princípio denominado Eu, exposto em sua principal obra, Doutrina da Ciência.

Em Kant, tínhamos um mundo subjetivo, depositário das formas a priori do conhecimento, e um mundo objetivo, a coisa-em-si, que só pode ser conhecido quando se torna fenômeno para o sujeito. Em Fichte, o mundo objetivo nasce do mundo subjetivo, como se a realidade fosse apenas um palco que o homem teria criado para agir.

O que é esse Eu que produz a si mesmo e a realidade? É pura liberdade, pura possibilidade. Ele é infinito e ilimitado. Por exemplo, posso ser o que imaginar ser, desde que não saia de meu mundo interior. Mas, para ser alguma coisa, preciso agir no mundo externo.

Ao agir, o Eu cria o não-Eu, que é a própria realidade. Ou seja, segundo Fichte, o mundo não existiria se não fosse colocado pela vontade do Eu, pela ação do sujeito. Ele faz isso para se definir, por meio de suas ações, e vencer os obstáculos da vida.

Um exemplo pode ajudar a entender melhor a ideia. Posso ter vários talentos, para desenho, música ou matemática. Mas, para desenvolver um destes talentos, preciso estudar, fazer uma faculdade ou exercitar muito estas habilidades. Ao fazer isso, me confronto com uma série de dificuldades (a falta de dinheiro, o fato de minha cidade não ter escolas especializadas, etc.). Porém, é somente superando tais empecilhos que defino esse Eu, dizendo, por exemplo, "Eu sou músico" ou "Eu sou filósofo".

Em Fichte a realidade é criada, na interioridade do sujeito, para que o Eu atinja todo seu potencial e desenvolva suas aspirações.


Fonte:

José Renato Salatiel in educacao.uol


Nenhum comentário:

Postar um comentário